10 dicas essências sobre o manejo de composto

O sistema de composto tem se mostrado como uma alternativa altamente viável para o confinamento de vacas leiteiras, tendo sido adotado por uma enormidade de propriedades com alta taxa de sucesso.
Mas ter sucesso em um sistema de compost requer manter a cama em boas condições, mas afinal o que são boas condições em uma cama de composto.
Aqui vão os 10 pontos de maior dúvida na cama de composto!
1) Como funciona a cama de compostagem
No composto as vacas ficam alojadas sobre uma cama rica em carbono, o esterco das vacas é misturado a essa cama iniciando o processo de compostagem.
Nesse processo bactérias aeróbicas usam o esterco, rico em nitrogênio, e a cama, rica em carbono, para fazer a síntese microbiana e nesse processo produzem calor.
Esse processo aeróbico que gera calor e é esse o motivo do sucesso do compost, pois ao produzir calor a cama perde água para o ambiente e seca.
Apesar do aumento da temperatura não existe um processo de pasteurização da cama de composto, a cama continua altamente contaminada por diversos microrganismos, algo próximo a 10 milhões de ufc por ml havendo toda sorte de bactérias, patogênicas e não patogênicas.
O segredo do compost é que o processo de produção de calor permite que a cama fique seca e dessa maneira a vaca mantenha se fisicamente limpa possibilitando que o processo de pré ordenha seja altamente efetivo.
2) Materiais para a cama
As características básicas dos materiais que podem ser usados como cama são a alta disponibilidade de carbono, alta capacidade de absorção de água, resiliência, granulometria e preço.
Essas características são necessárias, pois queremos um material que funcione como uma esponja, absorva a umidade e depois a libere aos poucos, que não compacte facilmente, que deixe uma boa quantidade de ar entre as partículas e que seja acessível.
De maneira geral usamos subprodutos da madeira com alta taxa de sucesso, tanto a maravalha quanto o pó de serra são o produto padrão. Preconizo a mistura de ambos para uma cama ideal, pois apesar do material ser o mesmo a granulometria da maravalha permite uma maior resistência a compactação e presença de oxigênio entre as partículas, mas tem uma velocidade de compostagem e absorção de água menor que a serragem, assim indico a mistura de 30 a 50% de serragem na maravalha.
Outros produtos como a casca de café e casca de amendoim são produtos usados com grande sucesso, mas a velocidade de degradação é alta levando a uma maior reposição nas fases iniciais. A mistura desses produtos com a serragem também gera vantagens.
A casca de arroz é um produto inferior com menor potencial de absorção de água, seu uso é indicado em até 30% do volume da cama, nesse caso sua indicação é para manter a resiliência da cama evitando a compactação e mantendo a cama aerada.
3) Implementos
Escarificador: Basicamente qualquer implemento de haste que consiga afundar 40 cm na cama e que cada haste esteja a no máximo 40 cm uma da outra pela extensão completa da largura do trator. Existem dois erros comuns no uso desse equipamento, o primeiro erro é afundar tanto a haste que revolva a terra abaixo da cama misturando as duas, temos que lembrar que terra é extremamente hidroscópica e ao ser misturada com a cama forma uma massa que se compacta.
Outro erro comum é se passar sempre no mesmo sentido o escarificador fazendo sulcos no mesmo lugar formando pontos de maior umidade, nesse caso recomendo que a cama seja revolvida sempre se fazendo curvas em forma de oito.
Rotativa: A enxada rotativa é um implemento cada vez mais comum, inicialmente não havia no mercado enxadas reforçadas o suficiente para o uso constante em camas de composto, o índice de quebra era enorme e geralmente só usávamos quando a cama começava a formar torrões, mais recentemente o mercado vem oferecendo enxadas rotativas reforçadas para essa aplicação. Dê preferência para as que apresentam alto torque e capacidade de operar em maiores profundidades além de dentes espessos na rotativa que quebrem pouco as partículas da cama.
4) Tratores
Toda cama de composto tem que ser revolvida no mínimo duas vezes ao dia, o custo diário dessa movimentação é afetado diretamente pelo consumo do trator. Outros pontos como a facilidade de fazer manobras e a necessidade de se evitar a compactação fazem de tratores pequenos e traçados a escolha ideal, geralmente recomendo tratores de 65 a 75hp traçados e preferencialmente mais estreitos como os cafeeiros para essa função.
5) Ventilação
A ventilação sobre a cama tem duas funções primordiais, a primeira é manter a camada superficial da cama seca e pouco aderente para que as vacas fiquem limpas, mas devemos lembrar que ventiladores não são os maiores responsáveis pela secagem da cama e sim o processo de compostagem.
Outro ponto essencial do vento sobre a cama é a manutenção do conforto térmico dos animais, o vento retira a camada limite de ar sob o pelo dos animais permitindo uma maior perda de calor para o ambiente mas devemos lembrar que o uso de ventiladores tem efeito limitado sobre a temperatura dos animais não diminuindo mais que 0,3°c. Dessa maneira o resfriamento na sala de espera e pista de alimentação são os únicos que promovem o real abaixamento da temperatura corpórea cabendo aos ventiladores da cama o prolongamento desse tratamento.
A velocidade adequada sob a cama é 2 metros por segundo devendo ser medido na superfície da cama até 1,6 m de altura.
6) Reposição
Cada vaca consome em média 2 a 4 m³ de cama por ano, essa variação está relacionada principalmente a densidade de animais e sua ingestão de matéria seca além do clima local. Locais de clima seco apresentam uma compostagem mais lenta além de alto poder de secagem da cama, dessa maneira o consumo de cama será menor. Locais mais úmidos ou com alta entrada de chuva na cama tem reposição maior.
Outro ponto é quanto a qualidade do material usado na reposição, obviamente além das características do material citados nesse artigo, essa reposição deve ser de material seco (com Ms igual ou superior a 80%) para que
o poder de absorção de água seja alto. Na maioria das vezes vejo a reposição chegar na fazenda com 50% ou menos de MS, dessa maneira o poder de secagem é baixo e a reposição pouco efetiva. Aqui vale lembrar que ao se comprar qualquer insumo para fazenda, seja cama ou milho, devemos pagar pela matéria seca.
7) Monitoramento
Todo e qualquer processo na fazenda deve ser passível de monitoramento, o composto não é exceção. Indico que uma vez por semana a temperatura da cama seja medida em 6 pontos pré determinados (evite pontos de passagem) ao longo da cama, a temperatura deve estar entre 46 e 56°c. Além disso, devemos recolher uma amostra de cada um desses pontos homogeneizar e determinar a umidade (pode ser usado o mesmo processo feito para silagem no micro-ondas) o limite de umidade é de 56% após esse ponto o processo de compostagem entra em declínio rapidamente.
8) Área por animal
Existe uma grande discussão sobre qual área de cama ideal por animal, para determinar esse fator devemos levar em conta diversos aspectos.
O fator principal é a produção de dejeto desse animal, essa produção está ligada a sua ingestão de MS e consequentemente a sua produção de leite, dessa maneira vacas de 40 litros precisam de mais cama que vacas de 25 litros. Para médias maiores a área de cama deve ser próxima a 12 m².
Outro ponto para se levar em consideração é o clima local. Locais onde as chuvas são mais escassas e a umidade é baixa permitem trabalhar com uma área menor por animal.
9) Proteção da entrada de água
A primeira ideia quando falamos de proteção contra a chuva são beirais, geralmente os beirais tem 3m de largura, mas mesmo nesse tamanho existe a entrada de chuvas de vento molhando a cama. Geralmente essa entrada de chuva durante a época quente do ano não é um problema quando a lotação animal está dentro da normalidade, mas quando combinamos o frio com chuva podemos ter problemas, nesses locais de invernos frios e chuvosos sugiro o isolamento das laterias do barracão com cortinas.
10) Frequência e intervalo entre revolvimento da cama
Toda cama de composto deve ser revolvida duas vezes ao dia, se houver uma alta lotação ou uma entrada repentina de chuva no barracão podemos aumentar para 3 vezes ao dia, mas um ponto e primordial para o sucesso desse revolvimento, o intervalo entre eles deve ser equidistante, muitas vezes me deparo com fazendas em que o segundo revolvimento diário é 5 ou 6 horas após o primeiro. Isso gera uma baixa eficiência, pois o processo de compostagem ainda não acumulou calor o suficiente para que ao se revirar a cama por uma segunda vez haja uma saída expressiva de umidade.